A arte de escrever. E de ler. E de pensar.
Há um reconhecimento comum a todas as cabeças pensantes de todos os tempos:
o da necessidade do homem de escrever. A atividade tem vários benefícios: ajuda-nos a pôr em ordem nossas ideias, faculta-nos uma melhor fixação dos conceitos expostos nos livros lidos e serve-nos de auxílio psicológico, ao colocamos sem censura nossas ideias no papel.
Arthur
Schopenhauer teve alguns dos pensamentos de sua obra "
Parerga und Paralipomena" traduzidos e compilados no livro "
A arte de escrever". Embora a compilação nos auxilie especificamente na execução dessa atividade, seus sábios conselhos não se limitam à escrita, estendendo-se a como ler e até como pensar melhor. Aqui vão alguns deles:
Quando se trata de boa leitura, a qualidade deve sempre prevalecer sobre a quantidade. Por conta da profusão de atividades diárias, devemos gastar nosso sempre pouco tempo livre nos clássicos, livros que passaram com sucesso pelo crivo do tempo, tornando-se, assim, imortais.
O filósofo alemão também sugere uma
meditação profunda sobre o último livro lido, de modo a garantir a melhor compreensão possível de seu conteúdo. Isto deve ser feito antes de se passar para o próximo.
Schopenhauer levava tão a sério essa recomendação que associava enfaticamente a leitura sem a necessária reflexão a decréscimos de cognição. O autor justificava a prioridade da reflexão sobre a leitura baseando-se num argumento aparentemente simples, mas profundo: pensar desenvolve nossas próprias ideias, enquanto ler significa apreender os pensamentos de outros, ainda que a leitura valha a pena.
Outro ponto ardorosamente defendido pelo autor é a
concisão no escrever. Além da economia nas palavras,
Schopenhauer alerta para o
cuidado na montagem da estrutura das frases, sobretudo com o excesso de orações subordinadas no meio dos períodos, cortando-os e causando a chamada "frase centopeica". Tal modo de construir as frases "cansa" o leitor e dificulta a leitura do texto; a não ser - pontua o filósofo, bem ao seu estilo mordaz e pessimista - que seja essa mesma a intenção do escritor: confundir quem lê, a fim de dar ao texto uma afetação de profundidade no fundo inexistente.
Como se pretendeu mostrar neste artigo, o texto do mestre poderia muito bem se chamar "
A arte de escrever, de ler e de pensar", pois mostra claramente a íntima e intensa ligação entre as três atividades e que o constante exercício das três cria um "círculo virtuoso", cuja consequência será a melhoria da vida dos homens, mesmo os "escritores de diário".
E qual é objetivo de uma vida de estudos senão justamente essa evolução?Tento não dar aos textos um tom pessoal, mas não poderia encerrar este deixando de atribuir à
minha amada esposa Carla a reflexão que o encerra, pois considero antiético ficar com o crédito da autoria de um comentário sem tê-lo formulado. Quando acabei a leitura do livro, comentei com ela sobre minha vontade de escrever um pequeno resumo dele e da minha surpresa ao ver
Schopenhauer apontar os malefícios de muita leitura. Respondeu-me ela assim:
"
Hoje em dia não há mais muita, e sim, pouca leitura. Se em 1851 havia um excesso de leitura, provavelmente é porque a leitura era o Tiktok da época".
É ou não é uma pérola de argúcia?
Obrigado pela companhia e até a próxima!