Um escritor deve aprender a temperar sua caneta para que seus textos sejam mais palatáveis ao leitor. Embora o manejo da palavra nunca tenha sido minha maior habilidade, sempre gostei bastante de escrever. O que já não era um talento nato esvaiu-se por completo, quando os caminhos da vida me levaram para outras plagas, distantes da inventiva.
Por isso, peço desculpas de antemão aos meus leitores pelo teor repetitivo e sem sabor desses primeiros textos, que, ao invés de trazerem algum conteúdo relevante, limitam-se, por conta da minha própria incapacidade, a subir nos ombros de gigantes, através de transcrições e tímidos comentários.
Entretanto, como nos ensina Marco Aurélio, "
Não perca mais tempo discutindo sobre o que um bom homem deve ser. Seja um". Usando ainda a metáfora da comida: de tanto repetirmos uma receita já pronta, uma hora ficaremos bons no ofício de cozinheiro, a ponto de conseguirmos criar a nossa própria. Portanto, prossigo tentando.
Uma das primeiras coisas de que reclamei quando me dispus a melhorar minha condição intelectual, tarefa que eu sei que me demandará um esforço extra de vontade, foi falta de tempo. A boa notícia é que não estou sozinho. Prova disso é que o primeiro conselho que o
Flávio Morgenstern dá no curso de
Formação do Senso Incomum é uma coisa que me parecia óbvia até eu tentar fazer: "
Largue o celular, as notícias inúteis, o whatsapp, reorganize sua agenda, e o tempo começará a ser suficiente". Desde então, venho tentando, aos trancos e barrancos, aplicar a valiosa dica.
Entretanto, como essa semana foi meio conturbada, tive pouco tempo para me dedicar à ingente tarefa de ser menos burro e continuar o estudo do livro "
A educação da vontade". Mesmo assim, consegui vir lendo no ônibus o livro "
Sobre a brevidade da vida".
Minha condição de burro fez com que eu descobrisse, embevecido como quem descobre a pólvora, a conexão existente entre os escritos de
Sêneca, um sujeito que viveu há dois mil anos, de
Jules Payot, que viveu há quase duzentos, de
Enoch Arnold Bennett, que "realizou a viagem de volta" há mais de 80 e do Flávio, que, graças a Deus, ainda está entre nós.
Se você ainda padece como eu ainda padeço desse mal, eu te peço: se eu, dentro da minha indigência intelectual, não consigo convencê-lo (e eu entendo seus motivos!) da urgência de não gastar nosso precioso tempo na Terra com platitudes, acredite num homem cujos ensinamentos vêm passando com sucesso pelo crivo infalível do tempo há mais de 2.000 anos:
"
A vida é longa o bastante e nos foi generosamente concedida para a execução de ações as mais importantes, caso toda ela seja bem aplicada. Porém, quando se dilui no luxo e na preguiça, quando não é despendida em nada de bom, somente então, compelidos pela necessidade derradeira, aquela que não havíamos percebido passar, sentimos que já passou.
É assim que acontece: não recebemos uma vida breve, mas a fazemos; dela não somos carentes, mas pródigos. Tal como amplos e magníficos recursos, quando vêm para um mau detentor, são dissipados num instante, ao passo que, por mais modestos que sejam, se entregues a um bom guardião, crescem pelo uso que se faz deles, assim também a nossa existência é bastante extensa para quem dela bem dispõe".
Como nos mostra o filósofo romano, o que nos falta não é tempo, mas foco no que é importante.
E é aí é que está o "
pulo do gato". O que é importante?
Você, que aguentou esse texto até aqui, provavelmente pularia no meu pescoço, com justificada cólera, caso eu lhe dissesse ao vivo o que escrevo agora: "
Ainda não sei a resposta". Entretanto, para lhe não deixar, meu caro leitor, inteiramente "na mão", repasso uma dica que obviamente não foi "sacada" por mim, um quadrúpede metafórico, mas pelos gênios do pensamento humano supracitados: "
Realize diária, honesta e criteriosamente o exercício de eliminar o supérfluo até que lhe sobre apenas o indispensável".
A forma de agir, mesmo quando multiplicada por -1, não esclarece definitivamente a questão. O que é importante para você não o é necessariamente para mim. Por isso mesmo, a decisão de separar as coisas sem as quais sua vida perderia o sentido daquelas das quais se livrar merece comemoração é única e exclusivamente sua.
Proponho um exercício, cujos resultados deixaram-me boquiaberto, mesmo eu não o tendo feito de forma perfeita (e aqui já vai outra dica:
repetição gera perfeição!): Gaste um tempo, primeiro separando em colunas de uma planilha o que é importante na sua vida do que é descartável, depois, somando a quantidade de tempo que gasta em cada uma das duas colunas.
Faça-o e depois me conte o resultado!
Um abraço e até sábado que vem!