Grandes mestres da Filosofia e da Literatura, como Sócrates, Sêneca, Olavo de Carvalho e Rodrigo Gurgel, são unânimes em afirmar: o propósito da leitura e da Literatura deve ir muito além do mero acúmulo de conhecimentos; se não servir também para melhorar algum aspecto da vida do leitor, terá pouca utilidade.
Tomando-se essa premissa como verdade (
Há como não ser?), pouco importa se o livro é ou não de ficção, se a narrativa aconteceu ou não na realidade, pois não é isso o que atesta sua qualidade, e sim os impactos positivos que tenha gerado na vida prática do leitor. Quando é esse o caso, dá-se o verdadeiro deleite que se sente ao ler clássicos como "O rei Arthur", de Howard Pyle.
Óbvio que ninguém é ingênuo ao ponto de acreditar que a Idade Média foi exatamente como o autor a retratou. Afinal de contas, a Perfeição na Terra já não existe há mais de 2.000 anos e de lá pra cá, nada mais é perfeito nesse planeta. Entretanto, mesmo que o excelente ambiente descrito no livro fosse minoritário, não há como não sentir um quê de saudosismo ao ler relatos que evocam valores completamente ignorados hoje em dia - alguns, inclusive, alvos de constantes tentativas de "cancelamento": lealdade, cortesia, um respeito à mulher que beirava a devoção, feminilidade, masculinidade, valentia...
É o típico livro que desperta no leitor a vontade de embainhar sua Excalibur, encilhar seu corcel e sair pelo mundo combatendo os cavaleiros de capa negra da vida - o mesmo tipo de sentimento que nos despertam "O príncipe e o mendigo", de Mark Twain, Dom Quixote, de Cervantes, e tantos outros do mesmo estilo.
Pode-se alegar que leitura de ficção é um tipo de fuga da realidade. A afirmação tem um bom grau de acerto, mas também dá margem a outras conjecturas:
O que está mais longe da realidade? Histórias de capa-e-espada ou o noticiário da "grande" mídia? Testemunhos - ficcionais ou não, novamente, não importa - de fé, coragem e sabedoria ou promessas da Carochinha de tudo público, grátis e de qualidade?Enveredemo-nos mais um pouco por esse caminho lógico:
Quem engana mais seu público? O autor que escreve uma obra inegavelmente de ficção ou o que escreve uma que se pretende de não-ficção e que deposita todas as esperanças da humanidade numa ideologia que promete um futuro melhor, mas que só entregou miséria, tirania e depravação onde esse "futuro" já chegou?Por isso, salve a ficção! Salve o rei Arthur e seus 32 cavaleiros da Távola Redonda! Salve o Mago Merlin! Salve Camelot!