Fala, galera amante da
corrida! Beleza?
No
texto da última quinta-feira eu trouxe um artigo do Steve Magness sobre a importância de variar a ênfase dos treinos entre
velocidade e
resistência.
Pois bem, o texto que trago hoje é do mesmo Magness, só que tirando de seu próprio site, o
ScienceOfRunning, e estende um pouco mais o assunto, explicando que os africanos focam mais na qualidade do que na quantidade e os ocidentais, mais no
volume que na
intensidade, o que não quer dizer que os africanos não façam (monstruoso) volume ou que os ocidentais não corram (extremamente) rápido.
Enfim, vou parar de enrolação e passar a palavra para o próprio Magness!
Se você é um corredor, conhece a cena. Você e seus amigos voltam para o estacionamento, olham para o relógio, que marca 9,96 quilômetros. Inevitavelmente, alguém começa a fazer mini círculos ao redor do carro até esse número virar para 10,00. é maluco, ilógico e faz pouco sentido.
Eu fiz isso.
Será que esses últimos círculos no ritmo de 10 minutos por quilômetro realmente fazem diferença? Claro que não. Desconsidere o fato de que nossos GPS têm um erro de medição, onde 9,96 realmente podem ser 10,06 quilômetros na realidade. No entanto, ainda fazemos isso.
Basta dizer que, como corredores, somos obcecados pela distância. Está entranhado em nossas mentes que o volume de treinamento é da maior importância. Afinal, calculamos e circulamos no final de cada semana em nosso registro de treinamento.
Em uma recente palestra sobre treinamento, o renomado técnico italiano Renato Canova faz uma pergunta: "Sou um técnico maluco e tenho dois atletas. Um é africano e um é europeu ou americano. Eu digo a eles que seu treinamento amanhã está correndo 20km em 1 hora. Média de 3 minutos por km. Ambos são incapazes de fazer (isso) ... O que eles devem fazer?
Com ambos os atletas preparados para falhar, já que eles não podem completar o treino, o que eles fazem? Neste cenário hipotético, Canova detalha que o americano olharia para o treino e diria, ok, eu tenho que chegar em 20km, então vou correr 20km no esforço mais difícil que puder. Então ele completa 20 km a 3:20 por quilômetro.
O africano, por outro lado, concentra-se no ritmo. A intensidade do esforço é de suma importância. Ele corre o ritmo correto (3:00 por quilômetro) até que ele não possa mais. Talvez ele faça 14km ou 16km. Não importa. Como Canova afirma, o africano pensa "quando acabar meu combustível, paro".
O que esse cenário hipotético faz é ilustrar a diferença de mentalidade entre os dois corredores. Para um lado, volume ou distância é primordial. Para o outro, a intensidade é o que importa. E essas duas mentalidades diferentes determinam como cada grupo vê o treinamento.
O africano foca em aumentar a qualidade. Se ele ou ela pode continuar um pouco mais na qualidade desejada, então há progresso. Ao falar com atletas que treinei no Quênia e na Etiópia, você vê isso com bastante frequência. Um grupo de corredores pode entrar no treino com um corredor de classe mundial. O atleta "sem nome" tentará correr com o Pro o máximo que puder naquele dia.
Por outro lado, na cultura ocidental, pense de volta em quando você iniciou um treino. A ênfase está em ACABAR o treino. Se for 5 x 1 quilômetro em 3:06'/km de pace, as repetições de cinco quilômetros serão completadas, mesmo se você diminuir para 3:15 na última. Essa é a norma. Nós colocamos a ênfase no volume.
Nossa lente de como vemos o treinamento é definida por normas culturais. Ideias e conceitos se transformam em regras de treinamento que se tornam cimentadas em nossas mentes, graças a uma combinação de conceitos tradicionais e espirituais.
Isso não quer dizer que os africanos do Leste não corram muito (eles correm) ou que os americanos ou os europeus não corram rápido (eles correm), mas é sobre como o nosso ponto de vista foca naquilo a que atribuímos valor. Porque valorizamos o volume, isso se torna o objetivo. Seja para completar nosso treino, circulando estacionamentos para "completar" nossa corrida, treinamento prescrito ("corra 10 km fáceis"), ou no famoso "quantos quilômetros por semana você corre?" Ele até se infiltra em nossos modelos de periodização de treinamento, que muitas vezes favorecem a realização de um certo volume antes que a intensidade seja aumentada ou considerada.
Claro, existem sutilezas nesta dicotomia e não é um ou outro, mas um espectro. Mas para atletas e treinadores, é importante entender nosso preconceito e como nossa lente molda a forma como vemos e interagimos com o treinamento. Não que devamos eliminá-la completamente, mas pensar em treinar de maneira diferente nos permite ter outra ferramenta na caixa para mudar o estímulo no treinamento.
Ou talvez isto faça você parar e pensar na próxima vez que você estiver fazendo mini-loops ao redor do carro no estacionamento, "Isso realmente está aperfeiçoando alguma coisa?"
Abraços e beijos a todos e até a próxima!