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Minimalismo Digital: Recuperando o lazer ativo

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domingo, 7 de maio de 2023 - 18:21
A grande maioria das atividades que desenvolvem no nosso dia a adia têm um fim prático, que quase nunca é a atividade em si mesma. Contudo, Cal Newport, em seu livro "Minimalismo Digital", inicia um capítulo com título homônimo deste artigo, testificando que a contemplação, enquanto atividade e finalidade ao mesmo tempo, é tão importante que Aristóteles dedica a ela um livro inteiro dos 10 que compõem a compilação de "Ética a Nicômano", apontando-a como o que o filósofo Kieran Steiya, do MIT, chamou de "fonte de alegria interior". Mas poder-se-á ver, ao longo deste capítulo, que nem só de contemplação vive o lazer de alta qualidade.

Como um exemplo tanto da urgência quanto da dificuldade de se voltar a esse tipo de lazer, o autor traz o caso do jornalista Michael Harris, que classificou como "uma verdadeira tortura" o incômodo causado pela experiência de trocar o lazer de baixa qualidade, no caso o Google, por um de alta qualidade, que consistia em contemplar o oceano por uma hora. É um tipo de agonia muito parecido com o experimentado por quem decide, por exemplo, largar o cigarro, embora seja descrita como algo "mais brando" por não envolver abstinência física.

Embora não envolva, à primeira vista, consequências físicas, o vazio deixado pela falta de distração de baixa qualidade pode deixar marcas psicológicas e comportamentais profundas se não for substituído imediatamente por lazer de alta qualidade. Isto, obviamente, pressupõe um planejamento sobre novas atividades entrarão no espaço deixado pelas suas antecessoras antes de concretizar a troca, a fim de que não haja "vácuo" temporal que, caso exista, pode levar o candidato a minimalista digital a mais frustração e ansiedade do que benefícios.

O princípio de Bennet

Em dois textos anteriores (aqui e aqui), o guru do Minimalismo Digital dá duas primeiras ideias do que colocar no espaço deixado pelo desmame das redes sociais e do smartphone. Agora, Newport introduz um conceito chamado "Princípio de Bennet", em homenagem a Arnold Bennet, que em seu livro "Como viver com 24 horas" (do qual já tratei brevemente nesses artigos), prega que não devemos gastar nosso tempo livre com passatempos frívolos, algo, aliás, que vem bem ao encontro do que prega o próprio Cal.


A sociedade da época de Bennet era "esnobe e machista", na visão de Newport. Nessa época era imperdoável, por exemplo, um homem perder tempo livre gastando-o com os filhos ou com tarefas domesticas. Além disso, o que era considerado lazer de alta qualidade era a leitura de livros difíceis, devendo-se ignorar os romances, "por não trazer dificuldade na leitura". Apesar da evidente diferença de contexto, Newport não nega o mérito do inglês, por mostrar a utilidade do lazer de alta qualidade que ele preconizava, alegando, inclusive, que este tipo de lazer nas 16 horas fora do escritório é tão benéfico que influencia positivamente até as 8 horas passadas dentro dele: "Gastar mais energia durante o lazer energiza mais", dizia Bennett.

Neste capítulo, entretanto, diferentemente do inglês, que sugere atividades mais intelectuais, o americano foca em hobbies fortemente baseados em construção e manutenção de benfeitorias. Para embasar suas sugestões, Cal inicialmente se serve da experiência de uma comunidade que ele denomina IF (Independência Financeira), um grupo de pessoas investimentos produzem renda suficiente para cobrir suas despesas, o que lhes traz tempo livre extra para outras atividades. Além dessa vantagem, o esforço dispendido para se atingir a IF leva seus praticantes a adotarem escolhas mais conscientes sobre seu estilo de vida - e quem leu a série de artigos sobre Minimalismo Digital publicadas no site já percebeu que consciência é a mola-mestra por trás de toda a filosofia da busca por uma vida com mais qualidade.

O autor cita como expoentes da comunidade IF o ex-engenheiro Pete Adeney, do blog Mr. Money Moustache, que "se aposentou" por volta dos 30 anos e hoje dedica seu tempo livre a projetos, preferencialmente ao ar livre. Processo semelhante se deu com Liz Thames, que escreve no seu blog FrugalWoods sobre IF. Ela e o marido levaram a ideia tão a sério que se mudaram para a zona rural de Vermont, uma escolha feita de modo a proporcionar-lhes trabalho que hoje se convencionou chamar de "rustico": serrar árvores para desbloquear trilhas, recolher madeira para aquecer a casa no inverno, etc. Tanto Pete quanto Liz classificam esse tipo de atividade como "hobbies virtuosos".

Entretanto, é um alento saber que os que não têm tempo e/ou recursos sobrando para investimentos também podem se beneficiar dos hobbies virtuosos, pois Cal relata que muito antes do surgimento da comunidade IF, o ex-presidente americano Theodore Roosevelt já pregava "não a doutrina da facilidade ignóbil, mas a da vida árdua". O autor descreve que para não ficar apenas no discurso, o mandatário, além de ser presidente dos EUA (o que sozinha já não é uma tarefa lá muito pequena), praticava boxe e jiu-jitsu, além de nadar no rio Potomac e ler um livro por dia!

Para finalizar, pode-se resumir o texto em duas frases: "O valor que uma atividade gera é proporcional à energia dispendida nela" e "Priorize a atividade consciente em vez do consumo".

Um abraço e até a próxima!

Fonte: Coelho de Programa

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