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O homem é, por natureza, um animal social". A famosa frase de Aristóteles é usada por Cal Newport, em seu livro
Minimalismo Digital (cujo resumo você pode pesquisar
aqui), para noticiar que a filosofia contida nessa afirmação agora encontra eco na ciência, comprovando o que o gênio descobriu usando apenas a observação da realidade (como, aliás, toda ciência deve ser).
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Washington, liderada pelo neurocientista Matthew Lieberman tentou responder à seguinte questão: "
Existem áreas do cérebro envolvidas em todos os tipos de atividade cerebral?" Depois de primeiros resultados desanimadores, os cientistas decidiram mudar a pergunta: "
Existe alguma parte do cérebro que está ativa quando não estamos executando uma tarefa cognitiva?"
Ao mudar o foco da investigação os cientistas descobriram que existem áreas cerebrais que são ativadas quando você não está realizando uma tarefa cognitiva e que são desativadas quando você se concentra em algo, e deram a este conjunto de áreas o nome de "rede-padrão".
Prosseguindo com os testes, Lieberman e sua equipe descobriram também que as regiões que compõem esta rede são "praticamente idênticas" às que se ativam em atividades de cognição social, e que essas áreas tendem a parar de funcionar se pararmos de exercer este tipo de atividade. Ou seja, a "rede-padrão" é eminentemente social. Trocando em miúdos:
a parte principal do nosso cérebro é projetada para atividades sociais, majoritariamente no nosso "tempo livre".
Avançando um pouco mais, a equipe descobriu esse mesmo tipo de atividade cerebral em bebês, mesmo estes não tendo nenhum interesse social, o que leva os pesquisadores a crer que este seja um comportamento instintivo.
Em um outro experimento, Matthew e seus colaboradores constataram que analgésicos, destes comuns vendidos em farmácias, amenizam a dor provocada por uma perda de conexão social, o que pode reforçar a tese de íntima ligação entre o "mundo físico" e o "mundo mental" de um ser humano.
O autor do livro escreveu esse capítulo maçante à primeira vista, por conter ciência que muitos de nós não conseguimos compreender com clareza, mas ao final revela sua importância, com uma indagação incômoda:
Você acha que nosso cérebro, que se desenvolveu por milhões de anos, através de interações sociais ricas e intensas, lidará bem com o fato de trocar isso por interações em rede social, através de curtidas em posts que às vezes você nem lê por completo?Newport termina fazendo uma felicíssima comparação entre o tipo de interação social a que damos prioridade hoje em dia com o
fast-food: prática, proporciona um prazer fugaz, de baixo "valor nutricional" e que a longo prazo pode produzir efeitos colaterais altamente preocupantes.
Um abraço e até a próxima!