Fala, galera! Conforme prometido, segue o primeiro de uma série de posts (idéia copiada na cara dura do meu amigo Wilton Junior) sobre a aventura dos Coelhos em Buenos Aires.
Como não podia deixar de ser, o primeiro é o da Maratona, lógico! Afinal de contas, a viagem foi planejada há um ano atrás pra isso!
Tá com tempo? Então senta que lá vem história, porque quem me conhece sabe que eu não gosto de contar história pela metade!
Essa viagem, na verdade, começa exatamente há um ano atrás, com essa conversa entre mim e o meu treinador, Ranon, da Equipe Márcia Rosa, que eu fiz questão de resgatar e salvar para este post. Aproveito para, mais uma vez, agradecer a esse cara o apoio e a competência. Para quem não sabe, dizem que o km 35 é a altura da Maratona onde geralmente o "urso" monta nas costas dos maratonistas. Pois bem, eu cheguei ao famigerado km 35 inteiro e sem o tal "urso" nas costas. Quando constatei isso, sorri e agradeci mentalmente ao Ranon e me congratulei por ter feito direitinho o que ele mandou, mesmo sem algumas vezes entender o objetivo. Aliás, se tem algum lugar onde nós, os "enquadrados" comandamos, esse lugar é a corrida, em especial a Maratona!
Eu não me inscrevi pra Maratona do Rio como o doido sugeriu, mas pra de Buenos Aires, que além de ser mais pra frente, com mais tempo pra treinar, era uma opção turística diferente, porque é óbvio que pra minha primeira maratona eu ia levar a família toda! Decidido isso, começou aquela coisa romântica que todo maratonista conhece: tiros suaves de 1 e 2 km, longões calmos e não muito cansativos de 30 km, e eis que chega o grande dia!
Botei o celular pra despertar mas a ansiedade era tanta que acordei 10 minutos antes. Levantei devagarzinho para não acordar mais ninguém, mas logo acordaram a Carla e logo depois Marina. Depois de revezar entre dar a última conferida em tudo, comer e ir ao banheiro 4 vezes, dei um beijo nelas e desci pra pegar o táxi que o hotel tinha reservado pra mim. Foi aí que descobri que o cara do táxi só chegaria em 40 minutos. Eram 6:30 e a largada era 7:30. Pensei: "
Ferrou! Se o cara vai demorar 40 minutos pra chegar, serão 7:10. É improvável que ele consiga fazer o mesmo percurso em 20 minutos"! Saí que nem um doido procurando táxi, mas dei muita sorte, pois achei um doido que era a cara do Messi, mas de olho azul. O bicho driblou meio mundo com aquele táxi e não tenho a mínima ideia de como, mas o fato é que por um milagre ele chegou às 7:20 na largada. Ufa! Agora é achar um banheiro (é, de novo, só que dessa vez só xixi!), gelzinho (Narayana, obrigadaaaaaço pela dica!), água e bora achar a baia de largada!
Não sei se eu já mencionei, mas eu sou o maior chorão, hehehehe. Então, na largada, pensei: "
Caraca, nem acredito, estou aqui! Daqui a pouco será coroado um ano de esforço!" e danei a chorar. Ainda bem que estava de óculos escuros! Nos primeiros 6 km, aquela muvuca igual às provas no Brasil: nego andando e fazendo paredão! No 7, primeiro gelzinho com água. Mais ou menos no km 8 a única subida da prova, pouco íngreme e curta. Tranquila. E eis que no km 9 o São Shuffle decide que eu estava muito comportado e ataca
Roll over Beethoven, a música preferida do Benedito. Segunda lubrificada nos zóio. Km 14, novo gel, sempre com água. No km 16, abriu a torneirinha de novo, com
Dark Horse (tinha que ter um George Harrison, e logo com a música do meu enterro, hahaha).
Esqueci de contar que minha estratégia mental seria pensar que "
só faltam X km", isso desde o primeiro. A ideia era focar só no ritmo e não ficar olhando quanto tempo já tinha se passado e pensando o tempo todo se daria ou não pra fazer em menos de 4 horas. Assim, só fui olhar o tempo quando faltavam "apenas" 21, ou seja, na meia: 2:03h. Pensei: "
Bom, pra ser sub-4 não vai dar". Então o que havia pra fazer era aumentar o nível de curtição, que já estava alto, porque eu sabia que o ritmo estava confortável. No 30 eu fiquei esperando o tal do "urso" que mencionei lá em cima, mas ele não apareceu. Apertei um pouquinho o passo.
Mais ou menos no km 32, depois de uns 3 km muito bons (5:18, 5:34 e 4:47!), olhei no relógio e o ritmo médio da corrida toda estava apontando 5:42, ou seja, um segundo apenas acima do que seria o necessário pra conseguir fechar a prova em 3 horas e 50 e muitos minutos. Opa, vai dar! Vamos acelerando beeeeem de leve até chegar no 5:40. Pronto! Mais uma pequena gordura pra queimar.
No 35, eu tinha certeza que daria. A sensação desse momento foi indescritível! Só quem treina pra uma insanidade dessas sabe o que se passa na cabeça de um maratonista quando ele, inteirão, vê que já tem um monte capengando do seu lado! Bem nessa hora o São Shuffle resolveu pegar pesado e mandou
Happy Man, e eu me lembrei da Carla, do quanto de esforço a gente tinha feito pela viagem, da minha ausência devido aos treinos, que às vezes acabavam às 10 da noite, em como ela foi demais se esforçando tanto planejar tudo praticamente sem a minha ajuda (sou péssimo pra essas coisas) e aí você já sabe o que aconteceu, né? Tá contando? Essa foi a quarta choradinha, hahahaha. Logo depois,
Let It Rain, que a Marina chamava de música do "violão grosso" quando era pequenininha e... vou nem falar, hahahahaha
Do km 40 pro 41, um baita susto. O idiota aqui achou que estava fácil e resolveu fazer o que? Acelerar! Resultado: uma fisgada forte na panturrilha direita! Aquela auto-xingada mental ("
idiota, não inventa!"), uma andada de uns 200 metros, uma alongada na batata da perna e acho que dá, simbora!
Tinha programado o Garmin pra parar exatamente nos 42.195 metros, e quando isso aconteceu, eu olhei pro relógio, vi que tinha dado exatos
3:57:48! Nem preciso dizer que dessa vez a cachoeira veio "de cum força", dessa vez ao som de
More, more, more (será um prenúncio de novas maratonas? Hahahahaha) acompanhada de muitos murros no ar e gritos de "
P*rr@, c@r@lh*, consegui, sou f*d@"! Finalmente eu era um Maratonista! Tanto sacrifício valeu a pena!
O único senão foi que não encontrei meu povo na chegada. Não tínhamos conseguido comprar chips argentinos pra colocar nos celulares, então marcamos um ponto de encontro, que nenhum dos 89.127.123 argentinos pra quem eu perguntei sabia onde era. Fui pro hotel, parei no meio do caminho pra tomar uma Quilmes, subi pro quarto e quando me preparava pra tomar banho chegou meu povo. Abraços, beijos, lágrimas (dessa vez da Carla e da Marina, eu já estava desidratado, hahahahaha), e vamos almoçar no Las Cañas pra comemorar. Mas o Las Cañas e seu garçom tosco, bem como outras histórias, são assuntos pra outros posts (
clique aqui pra acompanhar a saga dos Coelhos portenhos)
Alguns comentários sobre a prova em si: Plana, muito boa, com uma minúscula subida no km 8. Hidratação excelente, com garrafinhas plásticas pequenas, que evitam o afogamento dos copinhos, muito Gatorade (andei em uns 4 pontos pra tomar, e andei mesmo, para evitar engasgar e perder o ritmo da respiração), bananas cortadas pela metade e laranjas. Teve gente que odiou por achar que sujava a rua à toa e não acrescentava nada. Para mim, que estava há trocentas horas só com gel e cápsulas de sal, foi um manjar dos deuses! Em suma, é uma prova que faria de novo tranquilamente.
A única coisa que achei ruim foi, aliás, as únicas, foram a expo, para a qual fui cheio de expectativas mas achei fraca, e a falta de sinalização da proximidade dos pontos de água e Gatorade, o que causava pequenos atropelos na hora do povo beber! Ah, sim, e a falta de pontualidade dos argentinos. Não conte com marcar hora com eles!
Espero que tenham gostado de ler o relato tanto quanto eu gostei de escrevê-lo!
Abraços, beijos e até a próxima!