Minha semana foi altamente movimentada no trabalho, motivo pelo qual eu não havia avançado nada nos meus estudos dessa semana.
No entanto, fui levar meu filho menor ao reforço escolar e, como aprendi com o mestre
Flávio Morgenstern que
o estudo pode e deve ser fracionado, levei meu livro "A educação da vontade" pra ler e meu caderninho pra anotar as coisas pra estudar depois.
Confesso que minha ignorância é tamanha que ainda me causa surpresa o fato de um simples parágrafo despertar em mim ilações que dariam pra encher um
post inteiro só com elas. No ritmo em que vou, um
post sobre cada parágrafo lido, com 14 livros na fila pra ler, encherei o saco dos meus leitores por muito tempo, ainda...
Em dias de gente que nunca manuseou um microscópio na vida, mas que enche a boca para dizer: "
eu defemdo a siênsia", o trecho dessa semana cai muito bem. Melhor ainda se considerarmos que Jules Payot não o escreveu ontem, mas há pelo menos 80 anos, pois ele morreu em 1940, e que mesmo assim ele continua atualíssimo. Vamos a ele:
"
O objetivo do cientista não é saber, mas prever para poder. Pouco importa ao físico se a Teoria Ondulatória da Luz não passa de uma hipótese inverificável, desde que essa hipótese funcione. Funcionar aqui é o mesmo que prever o futuro, modificar os fenômenos como quisermos e, em suma, fazer com que o futuro seja aquilo que queremos que ele seja."
Basta vermos o que aconteceu nesses últimos dois anos para verificarmos a atualidade do texto, mesmo tendo sido escrito há quase um século. Mais além de verificarmos sua atualidade, é preciso compreendermos com urgência as implicações que o esquecimento desses conceitos vem nos causando.
O Flango Flito foi um festival de gente que se escondeu atrás da ciência para se aproveitar do nosso pouco entendimento da matéria e manipular a opinião pública de acordo com seus interesses políticos, mentindo na nossa cara sobre a eficácia milagrosa de drogas que sabíamos que ainda eram experimentais e destratando pessoas com anos de experiência real e diária nos assuntos envolvidos, apenas porque pensavam diferente, mesmo essas pessoas tendo demonstrado com fatos e dados que suas opiniões mereciam pelo menos respeito.
Eu não sou cientista, então, posso estar falando bobagem. Digo isso com a maior tranquilidade, porque só quem sabe tudo sobre todos os assuntos são uns 11 caras que há aqui em Brasília. Mesmo assim, aventuro-me a dizer que ciência sempre foi
observar a realidade para criar uma hipótese que a explique, e não
querer encaixar a realidade para que caiba numa narrativa travestida de ciência.
Narrativa esta, aliás, que, para espanto de zero pessoas, foi comprada com alegria pela imprensa tapuia, que, como se sabe, morreu e esqueceu de deitar, como diria minha saudosa mãe.
O que se viu nesses dois anos foram pessoas com zero prática no manejo da ciência (algumas delas com quase zero prática até mesmo no manejo da língua portuguesa) quererem atacar pessoas que comprovaram a eficácia de determinadas abordagens no tratamento do Flango Flito, em detrimento de outras cuja única ciência que detinham (não posso atestar porque não tive o prazer de ouvir) era o canto.
Há narrativas? Sempre há, sempre houve, sempre haverá, e como venho tentando aprender a duras penas, é normal que seja assim. As narrativas ultimamente ganharam um sentido negativo (não sem motivo), mas foram fundamentais ao desenvolvimento das sociedades antigas.
Defendo a existência até mesmo das nefastas, porque acredito na liberdade de expressão, e acho que a morte dessas narrativas ruins deve se dar sempre pelo desprezo popular voluntário ou pela responsabilização penal, se alguém que se sinta lesado por elas acionar a justiça para a devida reparação.
A última parte do parágrafo anterior quer dizer que as más narrativas devem, sim, ser combatidas. É por esse motivo o título da matéria. Criou-se uma narrativa para vender como milagrosa uma panaceia que até uma samambaia chorona sabe que é falaciosa? Combata-se com uma narrativa que mostre a verdade, usando todos os meios possíveis.
Claro que tal iniciativa não terá o mesmo alcance, pois obviamente não contará com o beneplácito da imprensa (de novo, para surpresa de zero pessoas).
Estou convicto de que
nada que valha a pena é fácil de ser feito, mas a verdade é um bem precioso. Por isso é que os esforços para mostrá-la aos nossos filhos, os depositários do futuro, nunca serão excessivos, mesmo com todas as adversidades que certamente aparecerão no caminho.
É um trabalho de formiguinha, mas que certamente frutificará num futuro, cuja distância é inversamente proporcional à urgência que dermos ao tema agora.
Afinal de contas, como nos lembra o grande Rodrigo Gurgel, não podemos agir como os integrantes da
intelligentsia brasileira, que "
dissolveram todo o senso de responsabilidade pessoal na poção mágica da 'responsabilidade social'"
Um abraço e até sábado que vem!