
Como corredores, ansiamos por detalhes de como maximizar nosso tempo e esforços: quantos quilômetros devemos correr, quantas repetições, que ritmo em que dias? Gráficos e números preenchem livros de treinamento e artigos de revistas. Baixamos aplicativos de treinamento que nos dizem exatamente o que devemos fazer a cada dia. O mercado está saturado de aparelhos que nos permitem rastrear cada número, cada passo.
Mas e se a chave para alcançar o seu melhor e permanecer na corrida pelos próximos anos for parar de planejar e monitorar? E se, em vez disso, você apenas ouvisse seu corpo e corresse como se sentisse no dia?Aprender a ouvir o seu corpo é uma habilidade, talvez perfeita para esses tempos de incertezas, quando não temos objetivos urgentes e somos
livres para experimentar e ver o que funciona. Aprender essa habilidade não só leva a grandes corridas e treinos, mas também aumenta sua capacidade de obter o máximo de si mesmo a longo prazo.
Quando comecei a entrevistar competidores de longa data para o meu livro,
Run Strong, Stay Hungry, esperava que a maioria, para atingir seu alto nível de sucesso, tivesse seguido planos cuidadosamente preparados, visando metas de quilometragem semanais, realizado com precisão parciais específicas durante treinos específicos e que poderiam detalhar exatamente como ajustaram esses totais e tempos à medida que envelheciam. Imaginei encontrar caixas cheias de registros de treinamento onde os treinos e totais se acumularam e então descobrir fórmulas para guiar os corredores ao longo das décadas.
E encontrei um pouco disso. Porém, com muito mais frequência, descobri que aqueles que continuam em alto nível, mesmo aqueles tão talentosos como a medalha de ouro olímpica Joan Benoit Samuelson, treinam mais por
percepção do que por plano e consideram isso um elemento importante para seu sucesso e longevidade.
Dentro dessa tendência compartilhada, entretanto, descobri muita variabilidade. Em uma extremidade do espectro estavam aqueles com quase nenhuma estrutura em seu treinamento, que corriam o que quer que tivessem vontade de correr todos os dias. Na outra ponta estavam os planejadores que usam a sensação apenas como um teste final de seu desempenho.
Cozinhando sem um livro
Uma das maneiras mais intrigantes e factíveis de integrar o auto monitoramento ao seu treinamento é deixar que a
percepção dite o que você faz entre uma variedade de opções ou, na visão de
Gary Allen, os ingredientes.
Allen, agora com 60 anos, de
Great Cranberry Island, Maine, começou a correr na escola em 1972 aos 15 e nunca mais parou. Desde então já correu 101 maratonas, 68 delas abaixo das três horas. Allen evita planos de treinamento rígidos. Ele credita sua longevidade e ausência de lesões ao que chama de "aprender a ser
chef".
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Meu treinamento sempre foi pouco convencional", diz Allen. Quando se trata de cozinhar, ele ressalta que muitas pessoas seguem um livro de receitas e tentam fazer tudo com exatidão. "
Exatamente 2/3 de uma xícara de farinha. Em seguida, uma colher de chá de manteiga. Eles têm que fazer exatamente isso, ou não funcionará. Muitos corredores correm como se estivessem seguindo uma receita, enquanto muitas pessoas que se tornam chefs cozinham por instinto".
Allen acredita que os corredores devem fazer mais do que apenas seguir uma receita: eles deveriam ser
chefs. É um processo que dá algum trabalho. Ele diz que aprendeu a ser um
chef estudando várias filosofias de treinamento e separando os ingredientes básicos comuns a todas elas. A partir daí ele conseguiu combiná-los conforme o gosto. Ele acha que os outros podem e devem fazer o mesmo. "
Torne-se um chef e pare de seguir a receita. Consiga esses ingredientes básicos em sua mistura, e a ordem em que os coloca é menos importante", disse Allen.
Na prática, isso significa fazer o que achar que é o certo para aquele dia, ao mesmo tempo garantindo variação regular dos tipos de corridas. Ao treinar para uma maratona, por exemplo, Allen se certifica de fazer um longão a cada semana ou 10 dias, mas não o agenda para um determinado dia. "
Muitas vezes, seria uma coisa espontânea: na sua mente, você está pensando, eu vou fazer 13 ou mais, mas você se sentiria tão bem ao atingir os 13 que você continuaria correndo até os 35 km", disse ele.
O mesmo vale para dias de velocidade. "
Em dias em que sua passada é leve e rápida, isso se transformaria em dias de fartlek", disse ele. Esse
fartlek poderia ser repetições de 800 m, subir as colinas ou fazer um
tempo-run. Ele deixa seu corpo guiá-lo para o que lhe parece melhor.
Allen não cronometra suas corridas nem usa um relógio GPS. Ele confia em seu monitoramento interno para saber qual é o esforço apropriado para cada tipo de corrida. "
Muitas vezes, eu planejava um treino conforme o ia fazendo. Eu simplesmente sairia correndo com a mente aberta e vazia. Um artista sabe o que vai pintar antes de pintar?", disse Allen.
Allen não é o único competidor de longa data que adotou uma abordagem aberta do tipo "como me sinto hoje". Steve Kartalia, que seguiu um treinamento mais estruturado quando era jovem e treinava para fazer as seletivas olímpicas de 10. 000 metros, relaxou sua abordagem após completar 40 anos.
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Faço treinos pesados, mas não com um cronograma rígido. Na maioria dos dias, nem sei o que vou fazer até que esteja com 3 km de minha corrida. Se me sinto ótimo, vou seguindo ou vou para a pista e faço alguns intervalos, ou para uma colina e faço algumas repetições. Nos dias em que me sentir mais ou menos ou mal, ajustarei de acordo, na corrida", disse Kartalia.
Kartalia deixa seu corpo ditar quando reduzir também. "
Se eu sentir uma motivação muito baixa por uma semana, faço uma pausa. Vou correr de cinco a seis dias, de cinco a seis km, uma grande diminuição. Vou reiniciar melhor, pensando: 'Sim, eu precisava disso', disse ele.
Para ser esse tipo de
chef ou artista, é preciso ter grande autoconsciência e foco. "
O truque é identificar o que está acontecendo com seu corpo. Depois de obter essa clareza, você pode identificar rapidamente que tipo de corrida será", disse Allen.
Traduzido do site PodiumRunner.com