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Cerveja, amendoim e roda-gigante

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terça-feira, 15 de novembro de 2022 - 06:48
Sentou-se em frente ao papel em branco com o cérebro fervilhando, como acontece com todos os que vivem majoritariamente no mundo das ideias.

O espoucar desordenado e contínuo dos pensamentos normalmente não o aflige, acostumado que está ao próprio frenesi mental. Entretanto, a aliança da cabeça quente com pequeninas derrotas do dia, e da semana, e do mês, e do ano, e da vida, acendeu-lhe um sinal vermelho.

Sabia-se impotente para tomar qualquer uma das duas únicas atitudes capazes de reverter a putrefação moral em que se encontrava: nem a interrupção da vida, por medo de ter que prestar contas a Deus, nem a definitiva mudança, para a qual ele sentia não ter nem a mais ínfima parcela de propensão.

Optou, então, pela escolha mais fácil, mais covarde e menos eficaz: vendo que nem seu amigo caderno seria capaz de escoar o rio de bílis que lhe ia na alma, fechou-o, preservando a virgindade da folha recém destacada, poupando-a do rosário das suas frustrações, e decidiu abrir uma cerveja.


Sorveu o primeiro gole, o amargor da bebida fazendo um dueto harmonioso com seu estado de espírito e o saco de amendoins trazendo algum sal à sua vida sem graça.

À medida que o álcool fazia sua "mágica", nosso bravo (sic) herói (sic) foi se desligando do seu mundinho de pequeno burguês (na estatura e na insignificância), dando-lhe uma efêmera sensação de paz, um descanso da sua mente tão desgovernada quanto acelerada. Após mais alguns goles, finalmente prostrou-se na cama, num sono pesado, tão sem sonhos quanto sua vida, depois de uma caminhada cujas pernas plúmbeas causaram-lhe a sensação de ter sido 10 de milhas ao invés dos 10 metros que em verdade foram.

Entretanto, o que o nosso protagonista pareceu não ter entendido, por absoluta inabilidade de se instalar na realidade da vida, é que esta é como uma roda-gigante: depois dos "altos" causados pelo torpor da bebida ou qualquer outra migalha fugaz de alegria, sempre vêm os "baixos" da realidade, que só aumentam, num coração fraco como o de nosso amigo, a ansiedade pelo próximo "sextou"...

Fonte: Coelho de Programa

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